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“Homem com H”, uma homenagem ainda em vida a Ney Matogrosso

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Guilherme Wisnik comenta a respeito do filme, destacando os principais momentos que marcaram e marcam a trajetória do cantor desde sua primeira aparição com os Secos e Molhados

Publicado: 03/07/2025 às 8:23

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Esta semana, o professor Guilherme Wisnik comenta o filme Homem com H, dirigido por Esmir Filho e protagonizado por Jesuíta Barbosa no papel de Ney Matogrosso, que está no centro de todo o filme, “esse personagem tão importante e, ao mesmo tempo, muitas vezes tão pouco reconhecido da música popular brasileira e, mais do que ela, da própria cultura brasileira na segunda metade do século 20 até hoje. O filme é muito importante por trazer à tona uma homenagem ainda em vida a essa grande figura, que é muito peculiar. O filme mostra toda a trajetória dele, do Estado do Mato Grosso, de um pai militar muito autoritário, uma família conservadora, mas ele tem a compreensão e a proteção da mãe. Tem essa questão da homossexualidade ou da ambiguidade sexual desde pequeno, o que faz com que o pai persiga ele muito, mas ele acaba saindo fugido de casa e vem para o Sudeste”.
O filme aborda a formação do grupo Secos e Molhados. “A partir desse momento, dá-se um desabrochar dessa figura tão singular no fato da identidade artística mesma dele, que é a potência do corpo, a expressividade do corpo com uma sexualidade andrógina. E isso como linguagem de afirmação num tempo de repressão muito forte, que era a ditadura militar no Brasil, em contraste absoluto com o contexto e em contraste com a própria personalidade dele, pessoalmente, que era mais retraída, mas que no palco ou em cena ganhava essa estridência muito forte.”
A carreira solo de Ney Matogrosso é outro ponto a destacar – é um momento de radicalização na vida do cantor. “Tem pelo menos mais dois momentos cruciais, que são a canção Homem com H, que dá título ao filme, que é um ritmo nordestino, um forró, onde tem a ironia sobre ser homem, sobre ser macho, e a canção é toda irônica nesse lugar de ser gay fingindo ser macho ou brincando com esse fato, e depois a relação com Cazuza, já no final dos anos 70 e início dos 80, que foi uma relação muito forte entre os dois, aí a própria presença do Cazuza ganha um lugar muito importante no próprio filme, pela questão amorosa, homossexual, mas também pela cena do início do chamado rock nacional, no caso ali no Rio de Janeiro, e o quanto, na verdade, essa figura tão importante da música brasileira, ao mesmo tempo que atravessa isso tudo, o Ney estava ali participando e como que abençoando também nesse momento essa outra cena, da qual normalmente não se identifica muito a ele. No final, a gente vê um show recente do Ney, o modo como todo esse percurso desemboca, passadas a aids, a morte de muita gente, a tragédia de uma geração, o exemplo dessa grande figura que chega incólume, que é um farol para todos nós”, conclui.

Espaço em Obra A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.

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